De Leão I a Leão XIV: a força de um nome que atravessa séculos
O legado de São Leão Magno inspira papas até hoje, moldou os alicerces da Igreja Católica e foi retomado com a escolha do nome Leão XIV pelo pontífice eleito nesta quinta-feira (8).
Na tarde desta quinta-feira, 8, o mundo assistiu à nomeação de Leão XIV como novo líder da Igreja Católica. Mas quem foi o primeiro pontífice a adotar esse nome e por que ele se tornou tão simbólico na história da fé católica?
São Leão Magno — ou Papa Leão I — assumiu o papado no ano 440 e foi o 45º sucessor de Pedro. Natural da região da Toscana, iniciou sua trajetória eclesiástica como diácono e conselheiro de Sisto III. Sua consagração marcou o início de um dos pontificados mais notáveis da Antiguidade cristã, estendendo-se por 21 anos, até sua morte em 461.
Reconhecido como Doutor da Igreja, Leão Magno foi o primeiro papa a ser chamado “Magno” — “grande”, em latim — título também concedido, séculos depois, a Gregório Magno. Seu legado une ação diplomática, firmeza teológica e liderança pastoral.
Um dos episódios mais marcantes de sua vida ocorreu em 452, quando a Itália era ameaçada pela invasão de Átila, o Huno. Com coragem, Leão liderou pessoalmente uma delegação até o encontro com o líder bárbaro às margens do rio Mincio, nas proximidades de Mântua. Segundo a tradição, Átila teria recuado após uma visão sobrenatural de São Pedro e São Paulo armados, ao lado do pontífice. Esse momento foi eternizado por Rafael Sanzio nos afrescos das Salas do Vaticano.
Três anos depois, Leão intercederia novamente — desta vez frente ao avanço dos Vândalos, comandados por Genserico. Embora Roma tenha sido saqueada, sua atuação garantiu que a cidade não fosse incendiada e preservou locais sagrados, como as basílicas de São Pedro e São João de Latrão. No campo doutrinário, sua atuação foi igualmente relevante. Ele teve papel central no Concílio de Calcedônia, em 451, quando sua epístola — o famoso “Tomo de Leão” — foi aclamada pelos bispos conciliares com a frase: “Pedro falou pela boca de Leão”. O documento reafirmava a natureza dual de Cristo — divina e humana — e combatia heresias da época, consolidando princípios centrais da teologia cristã.
Além de teólogo, Leão foi um pastor atento às necessidades do povo. Em uma Roma fragilizada por guerras, pobreza e superstições, promoveu a caridade, combateu injustiças e reforçou os laços com outras Igrejas cristãs. Deixou quase 100 sermões e cerca de 150 cartas, testemunho de seu zelo pela fé e pela unidade eclesial.
São Leão Magno morreu em 10 de novembro de 461. É considerado o primeiro papa sepultado na Basílica de São Pedro, onde suas relíquias ainda são veneradas na capela de Nossa Senhora do Pilar. O nome que ele tornou célebre foi adotado por outros 12 pontífices ao longo dos séculos — e agora por Leão XIV, trazendo à memória uma das figuras mais grandiosas da história da Igreja Católica.