Canguçu, sábado, 27 de abril de 2024
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Aspectos socioeconômicos de Canguçu e sua posição no RS e no Brasil

O Engenheiro Agrônomo e Doutor em Economia Aplicada, Augusto Gameiro, apresenta aos leitores do Canguçu Online algumas estatísticas gerais do município de Canguçu, bem como uma análise do seu posicionamento em relação aos demais municípios gaúchos e brasileiros.A fonte de dados é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As estatísticas são apresentadas com […]


O Engenheiro Agrônomo e Doutor em Economia Aplicada, Augusto Gameiro, apresenta aos leitores do Canguçu Online algumas estatísticas gerais do município de Canguçu, bem como uma análise do seu posicionamento em relação aos demais municípios gaúchos e brasileiros.

A fonte de dados é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As estatísticas são apresentadas com seu respectivo ano de referência, uma vez que as diferentes pesquisas do IBGE são realizadas em anos distintos. As informações apresentadas são as mais atuais que se têm disponível.

O objetivo é apresentar um panorama geral e comparativo do município, sem a pretensão de apresentar uma análise qualitativa detalhada de cada estatística.

Na Tabela 1 são apresentadas as estatísticas gerais do município de Canguçu. Na Tabela 2 são apresentadas as estatísticas para Canguçu e seu posicionamento no Rio Grande do Sul e no Brasil. Finalmente, a Figura 1 traz o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Canguçu, do Rio Grande do Sul e do Brasil, para o ano de 2010.

Tabela 1. Estatísticas gerais de Canguçu.

Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/cangucu

A população estimada atual do município é de quase 56 mil pessoas, o que significaria um crescimento de mais de 2.600 pessoas em relação ao último Censo, do ano de 2010. A área territorial do município é de 3.526,25 quilômetros quadrados, que resulta em uma densidade demográfica de 15,11 habitantes por quilômetros quadrados.

O sistema educacional do município conta com 47 escolas de ensino fundamental, com 421 docentes; e 8 escolas de ensino médio, com 116 docentes. A taxa de escolarização de 6 a 14 anos de idade no município é de 96,9%, que apesar de parecer alta, coloca o município em uma posição de desvantagem quando comparado com os demais municípios tanto do Rio Grande do Sul quanto do Brasil.

Para se entender o posicionamento relativo, vide a Tabela 2. No caso da taxa de escolarização, por exemplo, observa-se que Canguçu encontra-se na 394ª posição no Rio Grande do Sul. Ou seja, dos 497 municípios gaúchos, há 393 municípios que têm uma taxa de escolarização maior que a de Canguçu; ou ainda, dos 5.570 municípios do País, há 3.750 que têm uma taxa de escolarização superior que a de Canguçu.

Tabela 2. Estatísticas para Canguçu e seu posicionamento no Rio Grande do Sul e no Brasil.

Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/cangucu

¹O Rio Grande do Sul tem 497 municípios, sendo sua mediana igual a 248,5.
²O Brasil tem 5.570 municípios, sendo sua mediana igual a 2.785.
A mediana é o valor que divide um conjunto de valores ordenados em partes iguais.

Canguçu tem 36 estabelecimentos de saúde atendidos pelo SUS (Tabela 1). Apesar dessa cobertura, o município não se encontra bem posicionado quando se observa a taxa de mortalidade infantil (Tabela 2), que é de 15,38 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos. O município ocupa a 109ª posição no Estado nessa estatística, o que significa que dos 497 municípios gaúchos, apenas 108 têm uma mortalidade infantil maior do que a de Canguçu, ou ainda, vendo por outro lado, há 388 municípios que têm mortalidade infantil inferior que a de Canguçu (resultado de 497 menos 109). No posicionamento nacional, o município também não está bem, havendo outros 3.728 com melhor desempenho nessa taxa (resultado de 5.570 menos 1.842).

Uma das possíveis razões para a relativamente alta mortalidade infantil no município pode estar direta ou indiretamente relacionada à disponibilidade de esgotamento sanitário adequado. Segundo as estatísticas oficiais (ano 2010), apenas 41,6% da população canguçuense tem acesso a esgotamento sanitário adequado, o que coloca o município na posição 284ª, portanto ligeiramente pior que o da mediana do Estado (248,5), muito embora seja um posicionamento ligeiramente melhor (2.589), considerando a mediana nacional (2.785).

O desempenho do município em algumas estatísticas de sanidade ainda faz com que ele tenha um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior ao do Estado do Rio Grande do Sul e mesmo ligeiramente inferior que o do Brasil como um todo. Na Figura 1 pode-se observar o IDH de Canguçu, do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Fonte do IDH: IBGE | Fonte da escala: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/idhm/

Figura 1. Índice de Desenvolvimento Humano de Canguçu, do Rio Grande do Sul e do Brasil.

O IDH é um índice utilizado pelas Nações Unidas para mensurar desenvolvimento humano, e considera a expectativa de vida ao nascer, a escolaridade da população adulta, o fluxo escolar da população jovem e a renda per capita. O Índice vai de 0 (pior) até 1 (melhor). Apenas a título de comparação, considerando o IDH de 2017, a Noruega obteve um IDH igual a 0,953, sendo o mais elevado dentre todos os países; enquanto Níger teve o mais baixo IDH, igual a 0,354.

O IDH de Canguçu para 2010 é considerado médio, sendo comparável ao de países como Cabo Verde, Guatemala, Tajiquistão e Namíbia e Índia.

No que se refere ao desempenho econômico, no ano de 2016 (o último disponibilizado pelo IBGE), o município de Canguçu apresentou uma renda per capita anual de R$ 19 mil. Essa teria sido a “riqueza” média gerada por cada um dos canguçuenses naquele ano. Esse desempenho colocou o município nas últimas posições no contexto estadual: outros 435 municípios gaúchos tiveram renda superior.  Já no posicionamento nacional, o município tem um desempenho relativo melhor, ficando na 2.294ª posição (melhor que a mediana dos municípios brasileiros).

Chama a atenção o baixo número de “pessoas ocupadas” no município, representando apenas 10,7% da população total. Todavia, essa estatística deve ser considerada com forte ressalva, uma vez que o IBGE considera como “pessoas ocupadas”, apenas trabalhadores assalariados de empresas (pessoas jurídicas públicas e privadas, portanto, que tenham CNPJ). Em outras palavras, não são computados como “pessoal ocupado”, os trabalhadores autônomos, os agricultores e os trabalhadores informais. Sabe-se que esses contingentes são bastante significativos em Canguçu.

O IBGE identificou apenas 1.344 empresas em funcionamento em sua última pesquisa a respeito. São elas que empregam o contingente de 10,7% da população do município.

Em termos de posicionamento estadual e nacional, a estatística de “pessoal ocupado” acaba colocando Canguçu como de baixo desempenho, ficando na 418ª posição no RS e na 2.985ª para o Brasil. Porém, como já mencionado, essa posição deve ser vista com as devidas ressalvas. Sabe-se, por exemplo, a população de agricultores ativos é significativa no município, contingente esse que não considerado nesta análise.

Se o número de empregos formais não é muito animador do ponto de vista relativo com o Estado e o País, em teremos de remuneração média formal, o município encontra-se melhor posicionado. Com 2,2 salários mínimos em média por mês, os trabalhadores formais colocam o município melhor colocado em relação tanto à mediana do RS quanto à do Brasil.

Como dito no início, este ensaio não tem pretensão de esgotar o assunto, muito menos trazer uma visão crítica e pessimista para a população canguçuense. Muito pelo contrário, tem o objetivo único de mostrar os números e os fatos, no sentido de contribuir para os debates públicos e para a busca por eventuais estratégias para melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos e de suas cidadãs.

SOBRE O AUTOR
Com participação especial no Canguçu Online, Augusto Hauber Gameiro é canguçuense. É Engenheiro Agrônomo, Bacharel em Ciências Contábeis, Mestre e Doutor em Economia Aplicada. Atualmente é Professor de Economia, Sociologia e Administração do Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). Também é Coordenador do Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE/FMVZ/USP).